A natureza está passando por um grande stress, risco de sua sobrevivência. Sabemos todos o que as florestas estão sofrendo. O reino vegetal está em perigo e compete a cada ser humano fazer o que puder pela causa. Podemos ao menos, como nossos ancestrais, utilizar a magia propiciatória, como os velhos caçadores, e tentar mais uma vez, através da arte, obter resultados. Caberia então aos pintores contemporâneos retratá-la feliz e exuberante para obter resultados? No mínimo, teremos a expressão da arte.
O trabalho de Ana Ruas pode ser encaixado nessa mágica iniciação. Suas pinturas exuberantes são um apelo formidável para a querência humana. Seus quadros nos remetem ao idílio hedonista, da busca do paraíso ao ressurgimento dos arquétipos capazes de convencer-nos da importância de lutarmos pela preservação da natureza.
Pinta florestas. Fantasia florestas e leva os alunos, crianças que frequentam seu ateliê, a participarem desse ideal. Suas pinturas, muitas vezes gigantes, tem a presença do desenho gestual das crianças e Ana inicia a pintura dialogando com este fauvismo infantil. Obtém excelentes resultados, construindo matas repletas de claros e escuros, vegetação farta, com arabescos caprichosos das trepadeiras e cipós, evocando um barroquismo luxuriante.
Importante contar que Ana Ruas quando menina conviveu com uma bandeja na casa de sua mãe, que tinha a imagem de uma floresta. Observem, apenas uma bandeja, invocando a natureza, foi capaz de transformar aquela menina do interior gaúcho nesta personalidade, que vem a ser uma das mais qualificadas artistas do centro-oeste brasileiro.
Diz a sabedoria chinesa que as árvores são os vegetais de maior estatura sobre a face da terra e, espiritualmente, os mais adiantados do planeta. Elas estão em estado de meditação permanente e a energia sutil é sua linguagem natural. Esta fase ecológica da artista transmite-nos ao mesmo tempo sutileza e impacto. Disse-me ela que acredita ter mantido por muitos anos essas florestas presas em seu coração. Narrativa encantadora que nos remete àquela bandeja mágica da sua infância. E agora elas explodem em exuberante e simbólico verde de um sonho imorredouro.
Estou sempre atento a florestas pintadas, fotografadas ou filmadas. Tenho fortes lembranças da floresta em uma expedição que participei na Amazônia. Lembro também dos artistas holandeses, franceses e outros grandes contemporâneos que através dos séculos vêm documentando a vegetação brasileira, muitos com objetivos científicos de registro, porém sempre belos, como é natural ao tema. Ana Ruas nos recoloca na pintura contemporânea e nos comove, convence e apaixona.
Prefiro deixar a descoberta dos detalhes das tramas aos olhos dos próprios espectadores. Entretanto, podemos concluir com certeza o quanto a arte é, provavelmente, semente de uma ferramenta de conscientização ambiental. Viva portanto a floresta, também em nossos corações.
Humberto Espíndola
Artista plástico, membro da ABCA.
Janeiro 2019