Floresta Encantada, processo criativo, por Ana Ruas, 2017

A obra Floresta Encantada é uma pintura desenvolvida a partir de pinceladas de crianças, que foram convidadas a explorar gestualmente a tela, a uma altura de um metro e meio do chão.

*O ateliê além de ser o local de produção da artista, também é um laboratório voltado para arte-educação, em busca de poéticas individuais. No local, crianças experimentam e vivenciam processos em artes visuais.

Uma criança que usava cor verde falou de uma floresta. A partir daí este assunto tomou conta da pesquisa da artista, buscando assim, formas orgânicas em mesclas de narrativas imaginárias, de memórias e de registros fotográficos, que pudessem povoar a tela.

Depois da coparticipação das crianças, a pintura continuou sendo feita, de cima para baixo, do alto de um andaime por Ana Ruas, de forma que, a tinta ao escorrer não interferisse nas pinceladas das crianças, e sim, conversasse com elas. A composição foi surgindo de acordo com o resultado destes encontros de pinceladas e de escorridos. Assim, como as crianças, os registros do processo e da memória das cores sobrepostas são visíveis. Algumas vezes as formas são indefinidas na passagem da cor. As formas orgânicas verticais criam a ilusão de que a tela é retangular.

Sem interesse pela hierarquia de frente e fundo, os detalhes que surgem das veladuras, do resultado dos escorridos, do acúmulo de camadas, das sobreposições e do propósito gestual evidenciam uma certa anarquia. Algumas vezes, tons mais escuros surgem para contrastar com detalhes ou ativar campos de cor nas áreas vizinhas. Outras vezes, os mesmos detalhes são distorcidos pela invasão de uma cor durante o processo.

As experimentações cromáticas, como o azul e verde, quase dominam todo o plano, mas também são potencializadas com a manipulação de outras pequenas áreas de cores quentes.

A composição orgânica, repleta de camadas de tinta diluída, de transparência ou de pasta compacta, revela a trajetória, o caminho da pincelada e uma busca incansável pelo assunto que é a própria alquimia ou vocabulário pictórico. A obra quer falar do caráter investigativo, de questões intrínsecas à pintura, já discutidas na história da arte como possíveis jogos de luz, sombra, espaço, plano e cor. A floresta é a desculpa para pintar!

São as estratégias de apagamento, de recortes, de contrastes, de ocupação e exploração do espaço, estabelecidas o tempo todo e ao mesmo tempo, que definem o diálogo entre formas e cores.

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