Fazendo arte e colorindo a cidade, 2003

Por Maria Eugenia Amaral,2003

Ana Ruas nasceu em Machadinho/RS, estudou artes plásticas na universidade de Passo Fundo e reside em Campo Grande desde 1996, onde tem trabalhado como arte –educadora e artista plástica. A cidade de Campo Grande possui vários trabalhos de Ana Ruas, desenvolvidos em amplas áreas externas. Sua arte, expressa em pintura mural, viadutos, muros de áreas públicas, espaços comerciais e residências.

Eu já havia visto alguns de seus viadutos, assistindo matérias na TV e lido jornais sobre o seu trabalho, mas a conheci pessoalmente há pouco tempo. Ana Ruas é uma daquelas mulheres densas e belas,com luz própria. Ë um artista plástica que transformou seu prazer de produzir em uma ação que envolve educação, arte e cidadania.

Em 1992 ela começou se interessar em ensinar arte de uma maneira dinâmica, promovendo atividades onde – além de aulas sobre história da arte, conceitos e técnicas de pintura – o aluno tivesse a oportunidade de vivenciar o processo criativo. Esse interesse começou a tomar forma e a envolvê-la cada vez mais na sua conduta profissional. Assim, essa proposta de trabalho, idealizada durante anos, tomou a forma de um projeto que recebeu o nome de “A Cor das Ruas”, e foi formalizado em 2001. Tendo como meta a busca da humanização do espaço urbano, esse projeto realiza ações preventivas ao vandalismo e fornece a oportunidade aos jovens – em especial os de comunidades carentes, para se expressarem através da arte. Esse é o grande e significativo diferencial da proposta educativa de Ana Ruas: o jovem é estimulado a produzir, criar e pintar. Essa vivência do processo criativo da arte fica registrada, marcada orgulhosamente nos muros, materializando a capacidade de cada jovem ser um agente transformador da realidade. Isso é inclusão social realizada com prazer, despretensiosamente, como uma grande brincadeira. Mas que brincadeira séria!

Em 2001, Ana Ruas ensinou/brincou/produziu com 375 jovens, em seis cidades do Estado, totalizando vinte e cinco bairros, com o patrocínio da Brasil Telecom viabilizado pela Lei de incentivo á Cultura. Já em 2002, foram 220 jovens em quinze bairros de Campo Grande, mantendo a parceria com a Brasil Telecom, dessa vez viabilizado pelo FIC – Fundo de Investimentos Cultural do Estado - e pela Lei Ruanet, através do Ministério da Cultura.Em 2003, a escassez de recursos está mais crítica e , até o momento, somente 60 jovens felizardos, em quatro bairros, foram atendidos em Campo Grande. No total desses três anos, o projeto “A Cor das Ruas” resultou em nada menos que 11 km de murais. Ainda é muito pouco para uma proposta tão boa. Esse quadro poderá ser alterado se as prefeituras do interior do Estado se dispuserem a realizar parcerias com Ana Ruas. O investimento é pequeno se comparado com o resultado obtido, sendo com certeza infinitamente menor do que aquele derivado do vandalismo, da violência e das drogas.

Assim Dourados, que somente atendeu a Praça do Cinquentenário, poderá ser beneficiada pelo trabalho de Ana Ruas em outras comunidades locais. Da mesma forma, Ponta Porã, Corumbá, Paranaíba e Três Lagoas, que já vivenciaram a experiência de receber “A Cor das Ruas”, podem e devem repetir a dose. O interior do Estado não pode perder essa chance. Propostas como essa são raras.

Lendo o catálogo do projeto o depoimento de um garoto que vivenciou a arte pelas mãos de Ana Ruas,me chamaram a atenção estas palavras: “Arte para mim é como jogar bola”. Elas me levaram a sonhar com uma nova geração, culturalmente tão melhor que poderá ir a museus ( ou trazê-los até a comunidade) com o mesmo prazer que vai hoje ao futebol.

Maria Eugênia Amaral / Jornal O progresso- Dourados / 31 de maio de 2003

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